Palavras, Palavras...
Domun: Um Mundo de Cabeça para Baixo, onde o poeta escreve favas e come versos...
Andei à procura de palavras.
Queria encontrar aquela que melhor poderia dar conta do estado do Mundo, um Mundo em que …. Justamente, o que se pode dizer deste Mundo de modo a explicar o que nele se passa?
O que se passa no mundo? O que seria tão difícil descrever com palavras?
Darei apenas um exemplo: Netanyahu, um genocida confesso, indica Trump (e aqui já faltam as palavras para qualificar o homem de modo coerente) para o prêmio Nobel da Paz!!
Por acaso, descobri uma musiquinha popular egípcia que reagia à concessão do mesmo prêmio Nobel para Menachem Begin, Primeiro Ministro de Israel à época do acordo celebrado com o Egito.
A canção fala de um cidadão comum, chamado Salam (nome que significa Paz), que dorme um dia, acorda, lê nos jornais a notícia da paz e, desde então, confunde as palavras: “quando ‘Mechanem Jiben ganha o Meipro Loben’ significa que ‘Menachem Begin ganhou o Prêmio Noble’, então 'domun’ significa um ‘mundo’ que ficou de cabeça para baixo”.
Termina dizendo ao Comitê do Nobel dos problemas que tinha causado:
Então nesta época torta
Muitos horrores vão nos acontecer
Então a porrada substitui a palavra
E o escritor pega uma serra
Então o taepo é o poeta que
Mora num apartamento, dentro de uma estrofe, dentro de um poema, e
Escreve favas e come versos.
Agora, então, à minha busca por palavras.
Ocorreu-me chamá-lo de bizarro. Mas, indo ao dicionário, percebi que o primeiro sentido da palavra, em português e na sua origem espanhola, diz de algo que se destaca pela boa aparência, pelo bom porte, pela elegância… apenas informalmente refere algo que é esquisito, estranho, excêntrico. Não era o suficiente. A palavra tinha me ocorrido por ter pensado em histórias em quadrinhos em que “bizarro” qualificava personagens de universos paralelos em que tudo estaria invertido (ver, por exemplo, o Superman Bizarro).
“Universo paralelo"? “Dimensão alternativa"? “Mundo espelhado"? Essas expressões e outras próximas ou equivalentes, que poderiam pretender substituir minha primeira intuição do “bizarro”, tampouco me convenceram. Todas carregam a ideia de um outro Mundo que seria invertido ou paralelo por oposição ao nosso, que continuaria a obedecer às normas “normais” da natureza e da sociedade.
Por que não dizer simplesmente “mundo de cabeça para baixo"? A expressão parece fácil demais, simples demais, usual demais, de tal modo que não carregaria a força com que vejo o Mundo mergulhar no absurdo e no surreal.
“Absurdo", "surreal"… Como tantas outras palavras (talvez todas as palavras!), estas duas são primeiro pesadas e julgadas segundo o impacto que têm no nosso ouvir e no nosso entender. Depois, quando mergulhamos em seus sentidos construídos pela etimologia, lhes descobrimos uma força maior, menor, diferente, novo ou renovado… Gosto, tanto de “absurdo” como de “surreal", aprecio a força que carregam, mas ainda assim me pareciam insuficientes. A etimologia não chegou a me convencer: algo que está fora do tom e, por isso, é incompreensível, e algo que está acima da realidade e, por isso, parece absurdo, são coisas que falam com o que quero dizer, mas não o fazem com a potência necessária.
“Kafkiano”? Ainda não. Individual demais. Sim, transmite a opressão decorrente do absurdo e do surreal, mas é universal apenas na medida em que diz respeito aos indivíduos, todos os indivíduos.
“Onírico", algo do mundo dos sonhos? “Delirante”, algo que sai do curso previsto? “Alucinante”, algo do universo do perturbado e do perturbador? Sim, um pouco de cada um. No entanto, nem singularmente, nem em conjunto, dão conta do quadro geral.
“Quimérico", fantasioso, ilusório, monstruoso? Sim, um pouco disso também, especialmente o monstruoso.
“Disparatado”, disjuntado, deslocado? Sim, sim…
“Grotesco”? Gosto do som, gosto da força, visualizo até mesmo a careta com que se pronuncia a palavra. Mas a origem, nas pinturas encontradas em grutas antigas, vistas como fantásticas e estranhas, tira um pouco da potência de que gosto.
“Aberrante", aquilo que se desvia ou se afasta do caminho, também é mais satisfatória enquanto impacto do que enquanto origem destrinchada.
“Anômalo”, irregular, desigual, fora da norma; “Excêntrico", fora do centro; “Esdrúxulo", torto, irregular; “Insólito”, não habitual, não costumeiro… Tudo isso segue sendo parcial ou totalmente verdadeiro, mas segue não sendo suficiente.
“Distópico”, um lugar ruim, oposto ao utópico? Sim, me agrada… “Paradoxal”, contrário à opinião comum, me agrade menos. Assim como “Contraditório”, que diz o contrário.
“Perverso”, virado, invertido, me soa muito bem como acusação e como ofensa que gostaria de fazer ao mundo. E mais forte que seus próximos: "Distorcido”, “Subvertido”, “Transtornado".
Em suma, satisfiz apenas em parte a fome que tinha de uma palavra que pudesse lançar à face do Mundo.
Segui então na busca, mas agora queria encontrar as melhores palavras que diriam do efeito decorrente da percepção de um “Mundo fora de Prumo1”. Palavras que falassem do meu estranhamento e da minha incompreensão.
“Perplexidade” é uma das minhas favoritas, desde antes mesmo de saber que remete a uma mente que se dobra sobre si mesma tentando entender algo. “Desconcerto”, tirar de ordem, é boa, mas menos.
“Estupefação”, além de ter um belo ritmo, uma bela construção, diz do ficar atônito, atordoado. “Aturdimento”, além de talvez ter origem árabe (isso sempre toca um fraco meu), diz da confusão dos sentidos. “Estupor”, ficar imóvel de espanto.
Ficar “Boquiaberto", de boca aberta, “Embasbacado”, ofegante, “Atônito”, atingido pelo trovão…
Tudo isso diz de mim diante do Mundo, mas ainda faltam as palavras capazes de tudo dizer.
Como resultado da combinação entre o absurdo da vida e a perplexidade surge aquilo que é igualmente difícil capturar com palavras suficientemente boas.
“Desespero” é uma possibilidade, mas “Desesperança” me parece mais precisa, e “Desesperação” quando se pensa o processo de gradual mergulho no lugar em que já não se espera.
“Desalento"! Que bela palavra! Sem fôlego, sem o sopro que nos faz viver e preenche o nosso peito, impedindo-o de colapsar.
E “Desânimo"?! Uma palavra tantas vezes repetida para referir o cotidiano, mas que nos fala, em verdade, da ausência de alma, de espírito, do toque divino!
“Abatimento”, “Prostração”, que dizem de quem se viu derrubado, de quem se vê jogado ao chão, indefeso.
“Melancolia”, na origem ligada à ideia de uma bile negra causadora de doenças incompreendidas, quanta carga nessa palavra!
“Aflição”, a condição daquele que sofreu um golpe da adversidade…
As que chegam mais perto?
Talvez “Angústia”, aquela sensação, inclusive física, de aperto no peito, que nos tira o fôlego, que nos quer prostrar…
Talvez “Agonia", a luta contra a morte.
Nome de um belo livro, sobre as transformação da Inglaterra Sheakesperiana, escrito por meu amigo, Prof. José Garcez Ghirardi.
Tudo muito triste, Nasser… até quando? Desesperador…
Eu escrevi Salem Nasser!
Comecei às 22:32h de 14 de Julho de 2025 e já estava quase a chegar às 00:01h de 15/07/2025 quando 2/3 ou mais do meu texto desapareceram. Começou a meio do ecrã a rodar sem parar o círculo cinzento que penso que é indiciador de problema de ligação à Internet, e depois foram selecionados a cinzento mais de 2/3 do texto. Toquei no ecrã e desapareceu tudo. Procurei agora escrever mais umas linhas e aconteceu o mesmo. Escrevo umas poucas palavras, agora,às 00:34h de 15/07/2025, por uma questão de delicadeza e amizade para com o Salem Nasser.
Detesto cada vez mais este tempo de informática, sem telefones NEM PAPEL !
OBRIGADA pelo texto e pelo vídeo, ou melhor, pelo aúdio.
Vai passar mto tempo até voltar a escrever-lhe, Salem Nasser, por esta via tão perecível. A si ou a qualquer outra pessoa ou entendidade.
Ficar-me-ei por OBRIGADA e gostei muito, ou, OBRIGADA e ESPERO o PRÓXIMO TEXTO.
Estou definitivamente muito cansada e triste e de facto com muito fortes razões para isso. Dispensava bem que estas duas horas e meia se perdessem.
Há coisas que não poderei deixar para trás antes de ir dormir.
Fraterno abraço.
Alice Telles
Portugal, início 22:36h
14/07/2025, final 00:41 de 15/07/2025.
FIM.